Nossa História

A água que abastece Formiga: antes e depois do Saae.

Por muitos anos, o fornecimento de água em Formiga foi feito de forma praticamente artesanal. Quase quatro mil metros de bicames de aroeira abasteciam as residências da cidade. Em 1889, a madeira foi substituída por canos de metal e 49 anos depois começaram a surgir os primeiros poços artesianos. Porém, o constante desenvolvimento do município exigiu a adoção de uma técnica moderna capaz de atender satisfatoriamente toda a população. Foi então que, em 27 de dezembro de 1971, durante a administração do prefeito Arnaldo Barbosa (1971/1972) foi instituído, através da Lei 837, o Saae de Formiga (Serviço Autônomo de Água e Esgoto).

O novo método garantiu água tratada para todo o município, que também teve seu esgoto canalizado, acabando com as fossas sépticas que existiam em diversos pontos da cidade.

Atualmente, o Serviço de Água em Formiga abastece cerca de 22 mil residências, incluindo a zona rural, e sua receita orçamentária gira em torno de R$ 350 mil mensais. Em dezembro de 2005, a arrecadação da autarquia foi de R$ 338.651,45.

Para assegurar a qualidade da água, o Saae conta com duas estações de tratamento: a ETA I, que se localiza no bairro Santa Luzia e foi inaugurada em março de 1972 pelo prefeito Arnaldo Barbosa, e a ETA II, que fica no bairro Laginha e foi inaugurada em maio de 1990 pelo prefeito Jaime Mendonça. Estas estações recebem água dos rios Formiga e Mata-Cavalo respectivamente.

De acordo com o técnico químico João Alfredo Guimarães, responsável pela qualidade da água distribuída pelo Saae, desde 2001 a autarquia realiza, por meio de ações concretas, o controle determinado pela Portaria 518 do Ministério da Saúde. “Fazemos análises físico-químicas, através da medição de PH [Ponto de Hidrogenação], que observa a cor, turbidez, acidez, alcalinidade e o residual de cloro e flúor da água; e ainda análises micro-biológicas nas saídas de distribuição e nos pontos de rede”, comenta.

Mensalmente, também são realizadas análises nos 25 poços artesianos da zona urbana e nos 15 existentes na zona rural. Nas duas estações de tratamento, funcionários trabalham em plantões de 24 horas para acompanhar o tratamento de qualidade da água. No entanto, o técnico químico diz que não basta o Saae tratar a água. “É importante que, a cada seis meses, a população faça a limpeza dos reservatórios de suas casas e os mantenha sempre tampados”, observa.

Segundo a autarquia, a média geral diária de água tratada é de 180 litros por pessoa. Em Formiga, esse consumo chega a 350 litros.

A história do abastecimento.

No livro “Achegas à História do Oeste de Minas”, de Leopoldo Corrêa, um trecho conta sobre o início do abastecimento de água em Formiga. Acompanhe a transcrição:

Formiga foi captar, nos “olhos d’água”, o precioso líquido para sua população, como afinal quase todas as cidades.

“Em grande parte, como os problemas de saneamento da atualidade, os de então surgiam e perduraram por efeito da inclinação do homem para construir moradia fixa”. O problema da água era o dos dirigentes.

Major Ananias Teixeira, presidente da Câmara, a primeiro de dezembro de 1879, comunicava a seus pares que a municipalidade havia sido subvencionada com a importância de 5:200$000 pela Província para o serviço de água. Foi em concorrência pública o fornecimento de tubos ou telhões. Manoel Antônio de Carvalho e José Pinto de Magalhães entraram na concorrência. Um vereador propôs que se pedisse à Província a conservação do “rego d’água”. Foi rejeitada a proposta.

Os 3.937 metros de bicas de aroeira e madeira para andaime foram fornecidos por Joaquim Correia da Costa, num total de 6:950$000. Foi fiador Joaquim Pinto da Silveira.

O serviço de pedreiro ficou a cargo de Luiz Felix Corrêa e dois outros companheiros que vieram de Pitangui. As obras eram fiscalizadas pelos vereadores e um engenheiro fiscal.

O dinheiro prometido pela Província, isto é, os 5:200$000 não haviam chegado até dez de agosto de 1888, quando a Câmara reclamou. Muito justo porque a obra toda ficou em 20:000$000. Faltavam os chafarizes quando o presidente autorizou adquirir o material para o Chafariz da Matriz.

Misael Inácio de Oliveira era zelador da água, desde a caixa de recepção até a bica de encanamento, à Rua do Rosário. Manuel Antônio Ribeiro, pouco depois, foi encarregado de fazer a cobertura do bicame de aroeira com tábuas da mesma madeira ou violeta de uma polegada de espessura e construiu também caixa d’água na Rua do Rosário.

O Barão de Pium-í mandou fazer inúmeros chafarizes e determinou o encanamento da água em coluna de aroeira e canos de chumbo no Largo da Matriz, da Federação e Praça Quinze de Novembro.

Doutor Eduardo Lucian Briquet fez o projeto do reservatório d’água. Raul Cunha terminou a caixa da lajinha.

O desenvolvimento da cidade exigia constante sacrifício da população e falava-se da substituição da aroeira por canos de metal.

Em 1889, foi aprovado o orçamento do serviço, montado em 50:000$000, o que, aliás, não comportava no orçamento tal despesa. Foi autorizado empréstimo. Os estudos foram feitos por Antero de Magalhães. Abílio Ferreira Brandão ganhou a concorrência nesta feita.

José Bernardes de Faria determinou o andamento da obra, que ficou em 49:879$423, da Laginha à cidade. Joaquim Rodarte, vice-presidente em exercício, mandou desfazer as obras da antiga canalização e dividiu o produto da venda do material entre os distritos de Arcos, Pains e Pimenta. As bicas e pranchões de aroeira foram aplicados em serviços pela cidade.

Florêncio Rodrigues Nunes ganhou a concorrência de abastecimento d’água em Arcos, pelo prazo de 25 anos.

O rápido desenvolvimento da cidade exigia novos sacrifícios da municipalidade, e na administração Paulo Brito, o doutor Olinto Fonseca Filho conseguiu do governador Benedito Valadares autorização do serviço de perfuração de poços artesianos. Os trabalhos foram iniciados a 9 de outubro de 1938.

Durante a administração Paulo Brito e Carlos Camarão muito se fez neste sentido, aumentando consideravelmente o abastecimento de água, o sistema de distribuição e das adutoras. A última prestação do serviço foi paga na administração Leopoldo Corrêa.

Atualmente estão concluídos os trabalhos do DNOS [Departamento Nacional de Obras e Saneamento] para abastecimento d’água em Formiga nos moldes mais modernos da técnica atual.

Cumpre-se transcrever a histórica carta que tiramos de um arquivo particular de um amigo, por ser importante documento referente ao momentoso assunto. Trata-se de missiva escrita ao doutor Sílvio Diniz Borges, ilustre presidente do Conselho Nacional do Trânsito, que se empenhou junto ao diretor-geral daquele departamento para que sua terra natal tivesse o precioso líquido, de acordo com a técnica moderna.

Ei-la:

Carta no G 40 Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 1964.

Ilmo Sr.

Engenheiro Sílvio Borges

Residência do DNER

Brasília – DF

Prezado Sílvio.

Recebi o material, relativo a Formiga, que V. enviou-me pelo nosso comum amigo, Deputado Vasco Filho.

Tenho o prazer de informá-lo de que tudo está sendo feito no DNOS atendente àquela cidade [Formiga] no corrente exercício.

Abraços do colega e amigo.

Geraldo Bastos da Costa Reis – diretor geral

Os documentos foram remetidos ao doutor Sílvio Borges, por intermédio do prefeito Arnaldo Barbosa, então presidente da Associação Comercial de Formiga.

Eis os fatos, à luz da verdade.

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